sábado, 5 de outubro de 2013

Poetisas perdidas

Discurso
E aqui estou, cantando.

Um poeta é sempre irmão do vento e da água:
deixa seu ritmo por onde passa.

Venho de longe e vou para longe:
mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho
e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes
andaram.

Também procurei no céu a indicação de uma trajetória,
mas houve sempre muitas nuvens.
E suicidaram-se os operários de Babel.

Pois aqui estou, cantando.

Se eu nem sei onde estou,
como posso esperar que algum ouvido me escute?

Ah! Se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém gostar de mim?
Cecília Meireles

Quando já se teve um grande amor

Belo Belo


Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.


Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas estrelas cadentes.


A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.


O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.


Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.


Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.


As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.


Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.


— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.

Manuel Bandeira

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Cuidado

"O amor que é essencial, o sexo um acidente; pode ser igual, pode ser diferente" Fernando Pessoa.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Beba


"A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d'agua, bebida. A vida é líquida...
... O êxtase de te deitares contigo. Beba.
Estraçalha a sua própria medida."

Hilda Hilst